quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

1 - O Reencontro

- Que seja a primeira e última vez que me enfias num avião, Daniel.
- Não se preocupe pai. Acontecem mais acidentes de carro que de avião...
- E se me roubam a mala?

Daniel riu-se.

- Ninguém lhe vai roubar a mala pai.
- Como sabes?

Daniel semicerrou os olhos pensativo. E depois soltou um sorriso.

- Não sei. - Respondeu.

Isso não ajudou. Na verdade eu pensava não nas roupas que lá tinha dentro da mala mas sim da fotografia da minha falecida mulher. A única mulher da minha vida. Estivémos juntos durante 49 anos. Raios da mulher que podería ter durado mais um... só para comemorarmos as bodas de ouro. Mas compreendo que a sua missão estava completa neste mundo. Deixei-a ir quando vi que não era vontade dela ficar...

Após aqueles solavancos horríveis do avião a aterrar senti-me bem por estar de volta com os pés em terra. Se bem que não era a minha... Habituei-me às ovelhas e ao ar do campo desde muito novo. Os meus pais sempre garriavam comigo para que eu fosse calçar umas botas em vez de andar a sujar os pés na lama. Tinham medo que eu ficasse doente mas contam-se pelos dedos de uma mão as vezes em que apanhei uma constipação.

Encontrámos a mala saída de uma maquineta estranha e pergunto-me se as malas foram para lá levadas com delicadeza ou atiradas como vi elas serem transportadas para o avião. Se me partiram o vidro da moldura...

- Avô!! - Ouvi um grito e logo após dois pares de braços vieram ao meu encontro.

- Elisa! Marco! - Os meus pequenos netos estavam crescidos. A última vez que estive com eles ainda me cabíam na palma da mão. O tempo passa depressa.

- Como foi a viagem? - Perguntou o Marco.

- Eu levo a mala, pai.

Pedro tornara-se num homem que todos os pais gostaríam de ter como filho. Sempre atencioso com tudo, sempre pronto a ajudar... Mas muito magrinho.

- Deixa tar que eu levo. E tenho de ver se faço umas receitas da tua mãe que... olha para ti... - Agarrei-lhe na blusa. - 'Tás pele e osso. A tua mulher não te alimenta?

Elisa e Marco riram-se. Mesmo à nossa frente, uma mulher esbelta, loira e muito magrinha presenteava-nos com um sorriso.

- Olá? Desculpe mas não quero nada. - Passei ao lado da mulher que de certeza queria alugar os seus serviços.

De certo que era uma mulher bastante atraente, as curvas das ancas e das pernas mostravam bastante segurança sobre aqueles sapatos de salto alto que dão cabo das costas a qualquer uma que os tente usar. Uns lábios sedutores e uns seios firmes... Mas já não tenho idade para essas coisas, será que ela não vê?

- Pai, esta é a minha mulher. A Penélope.

Ora bolas! 

5 comentários:

Francisco disse...

ehehehehehehehheheeheh

fizeste-me rir :D

abraço amigo

Anónimo disse...

Eheh coitado, meteu a pata na poça :D já deu para ver que vêm aí aventuras divertidas com este senhor :D

Indyara disse...

Que leitura prazerosa, Paulo. Cabei de escrever pra vc no outro blog dizendo que você consegue prender a minha atenção. E com esse novo espaço, eu só confirmo ainda mais.
Você é maravilhoso!!
Beijo grande, querido!

Ísis disse...

Vou acompanhar a história :D querooo maiiis.
Quando sai o próximo capítulo?

Beijinho

Andreia Morais disse...

Coitado ahahah estou curiosa para ler mais peripécias